Sobre a questão da norma-padrão no século XIX brasileiro
o clima de opinião da época
DOI:
https://doi.org/10.47456/rctl.v19i42.50373Palavras-chave:
Norma linguística, Norma-padrão, Contextualização, Historiografia LinguísticaResumo
Neste artigo, objetivamos revisitar, a partir do princípio da contextualização (Koerner, 2014 [1995]), e do conceito de historicismo moderado (Batista, 2020), o clima de opinião em que se instaurou o estabelecimento da norma-padrão no Brasil, apontando fatos históricos e sociais que favoreceram uma linha de compreensão dos (des)caminhos normativistas do país, desde a sua gênese. Com isso, intentamos sobrelevar a importância de se considerar o contexto intelectual de uma época para melhor compreender os (des)caminhos pelos quais um tema, como o das normas linguísticas, foi se inserindo no país, o que requer um olhar sensível para traços do pensamento social da elite brasileira da segunda metade do século XIX e início do XX, responsável por adotar uma norma-padrão pautada nos modelos da variedade do português europeu. Percebemos que (i) a história dos debates sobre língua no Brasil é marcada por uma grande linha de continuidade com as teorias científicas estrangeiras, que desemboca, aos olhos de hoje, em práticas de racismo na sociedade; e que, (ii) para superar o imbróglio normativo brasileiro, é o empreendimento de submeter as regras da atual norma-padrão à crítica, de modo rigoroso, “limpando” o que for incompatível com a nossa realidade culta corrente.
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