Empreendedorismo Cultural na Perspectiva do Placemaking e da Orientação Empreendedora do Effectuation
DOI:
https://doi.org/10.47456/regec.2317-5087.2025.14.3.47477.57.83Palavras-chave:
Empreendedorismo Cultural Criativo, placemaking, feiras, itinerancia, Cariri CearenseResumo
A emergência de feiras itinerantes como espaços de circulação cultural e econômica tem despertado interesse por seu potencial de transformação social e espacial. No contexto do Cariri cearense, destaca-se a Feira das Meninas, iniciativa protagonizada por mulheres empreendedoras. Este estudo teve como objetivo analisar de que forma as ações empreendedoras desenvolvidas nessa feira itinerante se articulam às diretrizes de placemaking, entendidas como princípios orientadores para a gestão e ativação de espaços centrados nas pessoas (Mediotte et al., 2022), e à lógica do effectuation, voltada à ação empreendedora em contextos incertos (Sarasvathy, 2001). A pesquisa adotou abordagem qualitativa de orientação interpretativista, com uso de entrevistas semiestruturadas realizadas com sete participantes da feira. A análise temática dos dados revelou que a itinerância opera como eixo estruturante da feira, contribuindo para o placemaking por meio de três dimensões principais: (1) Agente ressignificador de espaços, ao atribuir novos significados aos lugares e impulsionar mobilizações populares; (2) elemento causador de experiências, ao facilitar interações entre feirantes, consumidores e os territórios ocupados; e (3) diferencial para o negócio, ao atrair novos públicos e fortalecer a presença empreendedora em eventos culturais. Conclui-se que a itinerância, enquanto estratégia empreendedora bottom-up, atua na mediação entre cultura, território e cidadania, evidenciando as feiras como práticas coletivas de reapropriação e ressignificação dos espaços urbanos.
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