Chamada de trabalhos. Farol v. 21, n. 33 (2025). Dossiê. Fins possíveis: desvios contemporâneos e os artistas-do-comum
“Somos filhos da época e a época é política.”
(Wisława Szymborska)
A arte contemporânea tem se debruçado sobre questões que transcendem os limites tradicionais da representação e propostas que se infiltram no tecido social, no cotidiano e nos espaços públicos. Se, como sugere Rancière, nada é político por si só, mas tudo pode ser político quando duas lógicas se encontram (a policial e a igualitária), então, a arte que emerge desse encontro pode tornar-se política ao reconfigurar a partilha do sensível, podendo ser engajada, disruptiva ou transformadora, mas sempre de modo indireto e contingente, mediada por modos de sensibilidade. Este dossiê convida à reflexão sobre as práticas artísticas que operam na interseção entre arte, vida cotidiana e política. Procuramos pela discussão de ideias que questionem as fronteiras entre produção estética, ativismo e convívio social. Inspirados por pensadores como Henri Lefebvre e sua concepção da arte de viver a cidade como obra de arte, propomos um olhar crítico sobre como as artes visuais, performáticas, sonoras e multidisciplinares têm sido mobilizadas para ressignificar o espaço público, promover encontros e dissolver as barreiras entre arte e vida. Interessa-nos, sobretudo, investigar: a existência e a permanência de poéticas ativistas em um regime estético cada vez mais absorvido pelo mercado e pela historiografia tradicional; as estratégias de ocupação e convivência em espaços urbanos, com foco na criação de comunidades temporárias ou permanentes; a figura dos artistas-do-comum e a utopia social; as revisitações críticas às rupturas históricas e sua reativação em contextos contemporâneos; a mercantilização da arte engajada e as contradições inerentes à sua institucionalização.

Nesse sentido, procuramos por artigos que discutam:
- Dissolução da arte na vida comum, práticas colaborativas e micropolíticas do convívio.
- Ocupação de espaços públicos, intervenções urbanas, ativismo espacial e direito à cidade.
- Poéticas do comum, artistas-do-comum, práticas coletivas e economias do compartilhamento.
- Crítica institucional e de mercado, absorção, resistência e revisão das estratégias ativistas pela historiografia e pelo sistema da arte.
- Novas leituras de velhas ruturas: reativação de conceitos como poiesis e práxis em escala social.
Este dossiê busca fomentar um diálogo plural e crítico sobre as potências e os limites da arte que se faz no encontro, no comum e no cotidiano.
Os trabalhos devem ser enviados através do site da Farol, com observação criteriosa das normas para submissão, até 10 de novembro de 2025.
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